Úlceras vasculares

As úlceras vasculares são lesões na pele cuja causa principal é um desequilíbrio no sistema circulatório das extremidades, predominantemente nos membros inferiores. Estão relacionadas a várias doenças, tais como diabetes mellitus, doença vascular periférica, doenças metabólicas, neuropáticas, hematológicas, colágenas, infecciosas, artrite reumatóide, trauma, osteomielite crônica, neoplasias, vasculite e insuficiência venosa crônica. Aproximadamente 3-5% dos pacientes não tem causa de ulceração identificada e em alguns casos a causa é multifatorial. 

Segundo sua etiologia, as úlceras vasculares podem ser classificadas em venosas ou arteriais. A ocorrência de úlceras vasculares afeta significativamente a qualidade de vida do indivíduo, em decorrência da dor crônica, do permanente desconforto, da perda de auto-estima, isolamento social, depressão, inabilidade para o trabalho, perda da produtividade ou até do emprego. Freqüentemente, o tratamento envolve períodos de hospitalização ou acompanhamento ambulatorial, que implicam em elevado tempo despendido e aumento nos custos.

úlcera venosa
Úlcera venosa ocasionada pela formação de varizes no sistema superficial

O que são as úlceras venosas?

As úlceras venosas são aquelas feridas causadas diretamente pela insuficiência venosa crônica (IVC) dos membros inferiores.

A IVC é caracterizada por sintomas ou sinais produzidos pela hipertensão venosa de longa duração e/ou obstrução venosa em conseqüência das anormalidades estruturais ou funcionais da microcirculação das veias e que culminam com formação de feridas. 

A IVC é caracterizada por um conjunto de alterações físicas como sintomas de dor, cansaço nas pernas, câimbra, prurido, sensação da queimação, dilatação ou proeminência venular superficial. E os sinais podem incluir telangectasias, veias reticulares ou varicosa, erisipela, edema, hiperpigmentação, lipodermatosclerose, eczema e por último a ulceração da pele. 

 

Como ocorre a insuficiência venosa crônica (IVC)?

A IVC é conseqüência da disfunção da bomba muscular da perna, que leva à hipertensão venosa. Esta bomba muscular é o primeiro mecanismo para o retorno sangüíneo dos membros inferiores para o coração. Ela faz a compressão da musculatura da perna, do sistema venoso profundo, do sistema venoso superficial e a perfusão/comunicação do sistema venoso. 

Durante a contração da musculatura da perna há compressão das veias profundas e o sangue do sistema venoso profundo flui na direção ao coração. Durante o relaxamento daqueles músculos , o sistema venoso profundo é perfundido com o fluxo das veias superficiais e das veias profundas distais. A função normal da válvula previne o refluxo e permiti um fluxo unidirecional das superficiais para o sistema profundo e das veias distais para as proximais. 

 

úlcera venosa por falha de bomba da panturrilha
Úlcera venosa por falha de bomba da panturrilha
Evolução da ulcera venosa
Evolução da úlcera venosa

A IVC é decorrente de insuficiência das veias das pernas e da associação do refluxo de sangue para as veias superficiais. A insuficiência venosa das extremidades inferiores é definida como a inversão do fluxo sangüíneo desde o sistema venoso profundo ao superficial, o que implica na insuficiência valvular das veias comunicantes. A falha no mecanismo fisiológico de fluxo venoso desencadeia a hipertensão venosa na deambulação. Ao longo do tempo, essas pressões elevadas no interior dos vasos afetam a microcirculação, aumentando a permeabilidade da membrana celular, provocando um extravasamento de várias substâncias do intravascular para o extra e consequentemente para a pele.

O que são úlceras arteriais?

São lesões decorrentes do déficit de perfusão capilar provocado pelos processos isquêmicos crônicos, que reduzemou impedem a chegada do sangue ao membro afetado. Este déficit acarreta a diminuição da atividade metabólica celular e consequentemente, alterações cutâneas que tornam a pele extremamente vulnerável à formação de ulcerações.
Denomina-se doença arterial periférica (DAP) ascondições que reduzem o suprimento de sangue para as extremidades, como a arteriosclerose, quando as
paredes das artérias sofrem modificações e se espessam, frequentemente associada à aterosclerose, quando há formação de placas no revestimento interno dos vasos.
A doença arterial periférica caracteriza-se pela presença de alterações nas artérias de grande, médio e pequeno calibre e está relacionada com a duração da
doença de base, idade, fatores genéticos e ambientais, o fumo, o sedentarismo, a dislipidemia, a hipertensão arterial, artrite reumatóide, lúpus eritematoso, diabetes mellitus entre outros. Estima-se que 5 a10% das úlceras das pernas estejam relacionadas às doenças arteriais.

Podemos subdividir as úlceras isquêmicas em dois
grupos:
– Arterioescleróticas (90-95%), denominadas também macroangiopáticas, quando a isquemia afeta vasos grandes, medianos ou pequenos.
– Tromboangeíticas ou hipertensivas (5-10%), denominadas também microangiopáticas, quando são afetados capilares, ou são conseqüência de complicações de uma doença hipertensiva arterial.

Gangrena de podo ocasionada por doença da macrocirculação
Úlcera microangiopatica em paciente diabético
Úlcera microangiopatica em paciente diabético

Como se desenvolve a úlcera arterial?

O desenvolvimento da úlcera arterial origina-se com o fluxo insuficiente do sangue arterial, resultando na aterosclerose subjacente, ou seja, o lúmem da parede arterial é ocluído com a deposição progressiva do colesterole agregantes plaquetários originando placas. O fluxo do sangue é comprometido gradual e progressivamente, gerando isquemia que provoca uma redução do fornecimento de oxigênio, nutrientes e conseqüentemente um retardo na resposta inflamatória, nas defesas imunológicas e nas demais fases do processo de cicatrização.

Estas placas podem se desprender da parede dos vasos, obstruírem vasos arteriais de pequeno calibre levando a isquemia e necrose tecidual. À medida que esta se agrava pode
desencadear alterações importantes como às úlceras cutâneas, que podem provocar lesões irreversíveis pelo retardo ou
interrupção do processo de cicatrização. A evolução natural da doença pode ser a gangrena do pé. Nas extremidades inferiores, a mais comum é a obstrução da artéria femoral (60%), seguida pelo segmento aortoilíaco (30%), sendo os 10% restantes de múltiplos segmentos.

Quais são os fatores de risco para o aparecimento de úlcera arterial?

Os fatores de risco associado à DAP incluem idade avançada, tabagismo, DM, hipercolesterolemia, hipertensão, Doença de Raynaud, Doença de Buerger, artrite reumatóide e possivelmente fatores genéticos .
A DM em jovens é um importante fator de risco porque a aterosclerose se desenvolve rapidamente afetando os vasos distais, levando a neuropatia diabética, aumentando o risco para a DAP.

As alterações clínicas estão relacionadas com fenômenos do tipo mecânico e hemodinâmico que se traduzem em isquemia. Não é raro identificar alterações na coloração cutânea do tipo azul-violáceo, por ação de metabólitos vasoativos produzidos pela isquemia e uma diminuição importante da temperatura da pele. Freqüentemente a pele é brilhante, com ausência de pêlos, de suor e de tecido adiposo adjacente. Quanto às características da ulceração, a grande maioria apresenta tecido desvitalizado, amarelo ou preto, tipo esfacelo ou escara (necrose), não são muito exsudativas, localizam- se na região distal retro maleolar, no calcâneo ou em pododáctilos e os pacientes queixam-se de muita dor.

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